terça-feira, 24 de novembro de 2015

Quando existe amor.

Há sensivelmente quatro anos, que penso escrever sobre este casal.
Talvez só agora me sinta capaz de escrever acerca deles... é talvez a única história que conheço de perto que transborda força, positivismo, vontade e sobretudo (sobretudo) amor.

Conheci-os há precisamente quatro anos.
Cheguei ao jantar de Natal de 2011 - do qual não fazia parte até essa data - e fui apresentada.

Já me tinham falado deles. Já me tinham contado por alto a situação dele:

- o A. teve um acidente de carro e ficou tetraplégico. E é casado com a M. Tens de os conhecer! São demais! - Diziam-me.
(nunca pensei muito no termo "são demais!", mas agora que escrevo, faz todo o sentido).

Bem na realidade quando me disseram que o A. era tetraplégico, e que iria conhecer, fiquei... não sei que palavra usar para descrever... talvez, ansiosa? Nunca tinha estado com alguém tão de perto nessa situação e estava ao mesmo tempo curiosa. Curiosa por mim. (o "problema" reside aqui - falta de consciência por parte das pessoas, e neste caso, também eu tinha esta falta de consciência)

Quando os conheci nem queria acreditar.
What? Um tetraplégico que ri, sorri, diz piadas e ainda goza com o próprio estado dele? Não, isto não pode ser verdade! 
Com o tempo, e com a convivência, fui tirando de ideia que algo podia ser uma capa. Tanto do A. como da M., fui percebendo que eles são isto. 
Não há encontro que não seja a rir, não há dia que estejamos juntos que não brinque, que não "parveje", que não faça tudo o que todos nós que conseguimos andar, correr, mexer os braços, as mãos, não façamos. "Faz mais quem quer do que quem pode" - e neste caso aplica-se. 

Com o tempo apercebi-me também que a M. é uma mulher com M. grande. E que só um grande amor, pode fazer o que os meus olhos têm visto durante estes quatro anos que os conheço. 
É namorada, é mulher, casou com ele. É ela que faz a higiene, que o "carrega" quando é preciso. É ela que dá tudo o que pode dar. E sempre com um sorriso nos lábios.

Eu sei, que na vida deles, tirando o facto de terem de sorrir para o mundo, existem dias menos bons. Claro que existem, não é fácil, até porque o A. tem fases em que leva dias de cama, em que aparecem as escaras, que o animo não é o mesmo como é óbvio. Dias em que a M., para além de tudo o que já faz em dias normais ainda tem uma preocupação maior. E podem-se tornar dias desesperantes - e eu que nem imagino como possam ser estes dias.

Melhor, trabalham os dois. Sim trabalham!

E agora? Ter coragem para falar de problemas? De chatices? Sim, todos temos problemas, todos temos dias menos bons. Será que não elevamos os nossos problemas ao ... cubo?

O mais lindo aconteceu este ano: o nascimento do filhote.
Quando recebo a noticia que um bebé está para chegar, é sempre com uma grande alegria mas quando foram eles a dizer... o meu coração disparou, a alegria foi a triplicar, a emoção igualmente, as lágrimas caíram-me. Foi realmente uma grande noticia e fiquei mesmo, mesmo e sinceramente, feliz por eles! O M. veio ao mundo, é lindo e acho que era o que estava a faltar,  serem pais para se sentirem completos! (mais uma vitória!)

Merecem. Merecem e não digo isto por "pena" - nunca os olhei com esse sentimento- nem digo isto só pelo facto do A. ser tetraplégico. Digo porque se há pessoas que gostam de viver e serem felizes são eles. E se há pessoas que dão valor a TUDO da vida são eles. Dão importância, ao que nós pessoas sem noção do que é realmente ter um problema, não damos.
No fundo não nos culpo. Não temos culpa de não ter consciência do que é viver numa situação destas, quais as necessidades, o que podem ainda fazer, como agir com estas pessoas. Não temos culpa de não fazer ideia.

E por isto, é de louvar a capacidade de "encaixe" da M. e do A.
Cada um à sua maneira, cada um na sua perspectiva, cada um com as suas dores, mágoas, tristezas, alegrias... cada um com dias diferentes, com altos e baixos. Mas os dois envolvidos de um grande, mas grande amor.

Tudo o que escrevi até aqui, é de facto o lado de cá. O meu "lado de cá".
Não tendo eu, consultado nenhum dos dois para saber se tais sentimentos batiam certo. Não sabendo das suas vidas no seu intimo. Mas sabendo das suas vidas quando me abrem a porta e me recebem lá em casa. Sabendo que passei pelo medo do "ai o que faço agora" quando o A. me pedia ajuda para alguma coisa... nem que fosse levar-lhe o copo à boca.
Sabendo do grande Homem que ele é por nunca ter desistido de viver, de ser a pessoa que é, do grande amigo que se tornou, e do sorriso que tem e esboça para a vida!
Sabendo também que não era qualquer mulher que faria o que a M. faz. Não por ser um sacrifico atenção!! Só porque isto é amar a sério.

Gostava de escrever um pouco mais acerca do A. mas não me sinto no direito de supor seja o que for que lhe possa passar pela cabeça. Limito-me a escrever sobre o que vejo e minimamente sobre o que transmite, o que lhe vai na cabeça e sentimentos que possa ter, dores, angustias e até felicidades, cabe só a ele, um dia contar(-me).

A vocês amigos, (que poderiam escrever um livro com a vossa linda história - que é muito mais que isto): tudo de bom é pouco!
Gosto de vocês e serão sempre um grande exemplo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante!
Permissão para "divagar" mais sobre o A. concedida.

O A. :)

Joana disse...

Terei todo o gosto de te ouvir contar uma história. =)

Beijinho